terça-feira, 19 de maio de 2009

O HOMEM E O GIRASSOL


Ontem eu estava caminhando pela cidade, mapeando suas ruas tão cheias de coisas vazias de coisas boas, quando de repente meus olhos depararam com uma imagem inusitada a embelezar aquela paisagem morta, dentro daquela tarde cinza. Era um girassol! Um girassol que traiu a força do cimento e aos trancos e barrancos, pôs-se de pé no meio da calçada, na pequena fenda que o destino reservou lhe como escape, para que ele pudesse conhecer o mundo e para que o mundo pudesse curvar-lhe ante o dourado da sua pele. Ele estava lá... Vigilante! Imponente. Brilhava tanto que até parecia querer deixar de ser Gira e ser apenas Sol. É como se estivesse vociferando entusiasmado para os que ali passavam que ele conseguiu! Que era possível viver e manter-se feliz no meio da dificuldade, ou pelo menos mostrar que as adversidades da vida não são maiores do que a vontade e a necessidade de se manter de pé, de não perder o foco, de não parar nunca de olhar para frente em direção ao sol, em direção a luz, em direção a vida e que mesmo no meio do nada, em um lugar que não é nosso, em um mundo que é estranho e de áspero aspecto, a esperança é mais forte! A perseverança é superior! Foi isso que li nas páginas amarelas que compunham aquele lindo e grande girassol, que teimava trair a força do cimento, o barulho dos carros e a fumaça negra dos escapamentos. Do outro lado eu vi um homem sentado na calçada, entregue ao desânimo, de cabeça baixa, sem perspectivas, sem sonho... Mesmo podendo dar passos, podendo erguer as mãos, podendo alçar a voz, estava ali inerte como se esperasse a morte chegar... Deu-me vontade deir até aquele homem. Eu não tinha nada de bonito para lhe dizer, não tinha nada de valioso para lhe oferecer e então me retrair. O que farei eu lá? Entrei em conflito, mas logo me decidi e atravessei a rua. Cheguei bem perto dele e sem titubear fui lhe dizendo: - Levanta homem! Não tenho nada para te dar, bem sei. Mas por favor, venha até aqui, erga estes teus olhos mórbidos, observe e absorva o esplendor e a vivacidade daquele solitário girassol! E isso foi tudo. Fui embora. E o girassol continuou lá... Traindo a força do cimento!

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